Há coisas ridículas neste país, e esta, de que tomei conhecimento hoje de manhã, é das mais ridículas que ouvi nos últimos tempos. Aparentemente há uma Escola de 2.º e 3.º Ciclos no Pinhal Novo que adoptou um código de vestuário que proíbe alunos/as e funcionários/as (docentes e não docentes) de, entre outras coisas, usar calças de cintura descaída, decotes, "tops" e mini-saias. Podem consultar a notícia aqui: Notícia em "Fábrica de Conteúdos".
Este código de vestuário foi aprovado em Assembleia de Escola, contando com o apoio de docentes, encarregados/as de educação e alunos/as. Bom, eu tenho alguns problemas óbvios com este tipo de restrições, porque acho que são meio caminho andado para códigos de conduta fascizantes. Mas o que mais me chocou nesta história foram as razões apresentadas, em entrevista à RTP, pela Presidente do Conselho Executivo para a adopção destas medidas. E passo a citar:
Segundo a responsável, «um professor sentiu-se incomodado por conseguir ver as cuequinhas de uma menina, devido à mini-saia muito curta que ela vestia».
A presidente do Conselho Executivo refere ainda uma situação ocorrida na época do Euro 2004 em que um rapaz apareceu «pintado da cabeça aos pés».
A questão que, para mim, se levanta é: o senhor Professor em questão, não tinha outro sítio para onde olhar que não fosse para o entre-pernas da menina?
Desculpem-me, mas este tipo de argumento, na minha opinião, está ao mesmo nível daquele que considera que as mulheres são vítimas de violência sexual porque se vestem de forma provocante. Mas que é isto, somos todos bichos, agora?! Um homem não pode ver uma mulher de mini-saia (ou pior, uma criança de mini-saia) que fica possuído por alguma espécie de instinto predatório?! Tenham juízo, meus/minhas senhores/as...
Por outro lado, outra das razões que, supostamente, está por detrás desta decisão, tem a ver com o acumular de queixas relativamente a jovens do sexo masculino que apalpam colegas do sexo feminino. Eu, sinceramente, penso que esta questão merece o mesmo tipo de reflexão que a anterior, mas, se me permitem, eu gostaria de lembrar que as crianças e os/as jovens não são seres assexuados. Preferencialmente iniciarão as suas vidas sexuais quando atingirem alguma maturidade física e psicológica, mas isso não significa que andem numa espécie de suspensão criogénica até aos dezoito anos, e que um dia, de repente, acordem, e descubram que são homens ou mulheres com impulsos sexuais. É normal!!! As crianças e os/as jovens têm jogos de sedução: fazem-no com os/as pais/mães, com os/as professores/as, com os pares. Sexualidade não é acto sexual... As crianças e os/as jovens descobrem-se como indivíduos e como homens ou mulheres através destas brincadeiras em que se tocam, se provocam, se testam a si próprios/as e aos/às outros/as. Quanto mais envolta em vergonha se tornar a descoberta na sexualidade, mais incapazes de intimidade física e emocional se tornarão estes indivíduos, que hoje são crianças a brincar aos apalpões, mas amanhã serão homens ou mulheres à procura de amor.
Tenham juízo... Cresçam... E deixem estes/as miúdos/as crescer em paz...