domingo, 18 de junho de 2006

Cru

Ora te nego, ora te ponho no peito,
E, na verdade, hei-de querer-te sempre.
És o meu lado luz, o meu lugar feliz.

Passo as mãos pelo corpo,
E, nele, tu. Em cada grito, em cada sopro,
em cada lágrima ou riso, tu.

Olho os espelhos, e eu neles,
Crua, sem jogos, sem vícios,
E assim me dou ao pulsar dos dias juntos,

À febre dos sentidos, acesos por segredos confessos.
A carne fervilha ao toque impaciente
Dos dedos sôfregos, dormentes da solidão.

E nos destroços da ardência,
Nos afectos quietos dos amantes exaustos,
Ficam as mãos, em laços, e nelas as raízes de nós.