sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

In my lair

Such things go on in my lair...



Me making Peaches do silly faces, com a vaca Margarida a espreitar ao cantinho...

O meu amor e a minha princesa Junior, à média luz...


Imelda Marcos...?



Luna à mesa, à espera de ser servida...



Luna, a gata mais culta do mundo, descansa depois do intenso esforço intelectual...

sábado, 13 de janeiro de 2007

A Barbie

Sou uma Barbie Girl. Tive algumas Barbies, não muitas, algumas; talvez aí umas três. Não tinham grande especificidade, lembro-me que uma era uma Midge (que é amiga da Barbie, é ruiva e ligeiramente mais morena de pele) e outra era uma Barbie Penteados, com um cabelo ondulado até aos pés, que eu cortei pela cintura ao fim de alguns meses de companheirismo. Também nunca tive muitos acessórios da Barbie; tive um salão de beleza (com espelho, sofá e suporte giratório - para a boneca, claro) e, mais tarde, a minha irmã teve um Ken e um jipe com atrelado. Brincávamos "às casas", que espalhávamos por toda a sala, e que "construíamos" com o tributo de outros brinquedos.
Brinquei com Barbies até bastante tarde, acho eu, penso que a última vez que terá acontecido eu devia ter uns 13 anos. Tenho uma irmã mais nova que eu três anos e meio, o que contribuiu para me sentisse até tarde inspirada para brincar, às Barbies ou a outra coisa qualquer. Normalmente, brincávamos "às Escolas"; escusado será dizer que eu era sempre a professora, e as nossas brincadeiras costumavam envolver bastante aparato, incluíndo figurinos e um décor bastante alargado. Éramos muito teatrais, e as brincadeiras duravam, por vezes, vários dias.
Há alguns dias, debrucei-me a pensar sobre o que é a Barbie. A Barbie é a materialização da "mulher ideal": é branca, é loura, tem olhos azuis, tem o peito saliente, a cintura bem definida, as pernas altas e esguias. E sorri, sorri sempre; a Barbie nunca chora, nem sequer está triste, melancólica ou pensativa. E é assexuada. Tem peito, mas não tem orgãos genitais. O Ken também não. Se olharmos com atenção, a "área genital" da Barbie é pouco mais ou menos igual à do Ken. O que quer isto dizer?
Além de Barbies, também tive um Nenuco. Ou uma Nenuca, se quiserem, tinha cabelos pela altura dos ombros, louros aos caracóis, e trazia um vestido branco e rosa. A minha irmã também teve um, mas o dela era careca, e trazia um baby-grow (já não me lembro da cor), portanto mais ou menos sexualmente neutro. O que faz dos bonecos (e de nós) meninos ou meninas? O comprimento do cabelo? A cor da nossa roupa?
A minha mãe é educadora de infância e, há algum tempo atrás, fui com ela a uma loja onde vendem artigos de suporte pedagógico (jogos, tintas, mobiliário...), entre os quais bonecos do tipo dos Nenucos. E foi uma revelação: havia brancos, negros e asiáticos; de cabelos louros, castanhos, pretos, escorridos, frisados e encaracolados, meninos e meninas, com vulvas ou pénis, e despidos. Incrível, pensei. A democratização dos brinquedos, ou pelo menos um passo nesse sentido.
Falo disto, ainda que pareça a despropósito, na sequência de uma troca de opiniões acerca daquilo que (supostamente) são "brinquedos de rapazes" e "brinquedos de raparigas". Nunca tive uma bola de futebol, mas tive uma de basket, outra de volley e uma raquete de ténis. Tive patins e bicicleta, e practicamente todos os anos da minha vida escolar participei no Desporto Escolar, representando a(s) escola(s) em torneios de futebol, andebol, basket e atletismo. Nunca tive uma pista de carros, mas tive uma consola (da Nintendo), para a qual, aliás, me ofereceram um jogo da Barbie. Apesar de, aparentemente, ter tido acesso a "brinquedos de rapazes" e "brinquedos de raparigas", não conheço nenhum rapaz que tenha brincado com bonecas (durante muito tempo e sem que isso tenha causado nos pais algum tipo de apreensão) ou a quem tenham oferecido um estojo de beleza ou utensílios de cozinha. Se houver algum, que se chegue à frente, por favor, preciso mesmo de ser contrariada nesta percepção.
Não me lembro de alguma vez me ter sentido, ou de me terem feito sentir, desconfortável com as minhas opções de ocupação dos tempos livres; penso que nunca me chamaram "maria-rapaz", mas mesmo que tivessem chamado, tenho a ideia de que é um estigma muito menos penalizador e permanente do que chamar "maricas" a um rapaz. A sociedade espera que a rapariga ultrapasse esse tipo de opções menos femininas (dizem "Isso passa, com a idade"), enquanto que um menino que tenha mostrado predilecção pelas bonecas em detrimento das bolas de futebol, é "maricas". Portanto, é efeminado. E gay.
Aquilo com que brincamos tem algum papel na definição das nossas capacidades cognitivas e da(s) nossa(s) identidade(s)? Julgo que ninguém terá problemas em aceitar que ter oportunidade de construir puzzles, encaixar peças segundo o seu formato, cor e tamanho, ou exercitar o raciocínio em jogos de estratégia contribui para que a nossa capacidade intelectual se desenvolva, seja em que áreas for. Porque terão, então, as pessoas tanta dificuldade em pensar que não oferecer uma pista de carros ou um gameboy a uma menina ou não oferecer uma boneca ou uma vassoura e uma pá a um menino poderá representar uma falha para o seu pleno desenvolvimento sócio-emocional? Terão os pais e as mães medo de que os seus meninos sejam menos meninos que os outros? Que, por brincarem com bonecas, venham a ser socialmente incapazes de se afirmarem enquanto homens, em adultos? O que é um homem? O que faz um homem? E, já agora, o que não faz?