sexta-feira, 29 de junho de 2007

Pringles Jamón

São estupidamente salgadas... A ponto de me rebentarem os lábios e me provocarem um esgar de "Aaaarghhh... azeeeeeedo" cada vez que trinco uma.
São o cúmulo da gordura, o que é especialmente grave quando se está a comê-las ao computador, mais ainda quando já passámos de meio do pacote e temos que lá enfiar o punho para sacar alguma.
E no entanto... em cinco minutos, Deus guarde as Pringles, paz à alma delas, for they have ceased to exist. Castiguei 170 gramas de "Producto de Aperitivo Frito con sabor a Jamón" enquanto o Diabo esfrega um olho.
Rai's parta a m*rda da gulodice!...



(Porque a vida também é feita destes pequenos nadas, que são, afinal, o que lhe dá côr... :) )

terça-feira, 26 de junho de 2007

Sobre a música

"Quando a música nos comove até às lágrimas aparentemente sem motivo, não choramos por um excesso de prazer, mas por um excesso daquela tristeza impaciente e perpétua de, como meros mortais, ainda não estarmos preparados para nos banquetearmos com os êxtases sobrenaturais dos quais a música nos oferece apenas um vislumbre sugestivo e indefinido."
=Edgar Allan Poe=

Gosto de música. Não imagino a minha vida sem ela. Gosto de todo o tipo de música, desde que seja boa. Desde que faça sentido. Às vezes ouço uma música, da qual acho, à partida, que não vou gostar, por ser deste ou daquele "género musical", e passado alguns segundos, lá estou eu a bater o pé ao ritmo. Posso até não gostar, mas há qualquer coisa numa boa música, numa boa voz e numa boa batida que ultrapassa qualquer estereótipo. Chama-se "feeling".

É como a água: não tem cheiro, nem cor, nem sabor. Não se lhe pode tocar, nem medi-lo. Apenas senti-lo. Para mim, é como se aquela música "fizesse sentido", é o que costumo dizer. Não sei explicar. Só sei sentir. É a diferença entre se arrepiar a pele da nuca e os olhos se encherem de água, ou todos os músculos do corpo se contrairem na expectativa do "descarrilamento". O que, quando se houve uma banda ao vivo, é ainda mais evidente: é preciso conhecer muito bem uma música, "senti-la", para o/a músico/a se poder libertar e, verdadeiramente, interpretá-la. Não se trata apenas de saber as notinhas todas, e tocá-las todas muito direitinhas, em filinha atrás umas das outras. Isso, para mim, não é música; é som. A música é imprevisibilidade, é emoção, é improviso. É saber aproveitar aquela nota falhada para construir toda uma nova lógica harmónica. Isso é talento.

Nem toda a gente tem. É um facto. Quando era pequena, a minha irmã recebeu, num aniversário, um orgão, daqueles Casio, de boa qualidade. Ela não lhe ligava muito, e eu entretinha-me a tirar músicas de ouvido. Ouvia uma música e procurava reproduzi-la no orgão, tentando-falhando-tentando notas. Toda a gente dizia que eu tinha bom ouvido, mas, na realidade, aquilo eram só notas, umas a seguir às outras, sem fio condutor. Se quisermos, é a técnica, sem o "feeling". Isso não é música; é som.

Um/a bom/boa músico/a tem a capacidade de nos "transportar" para uma outra dimensão de entendimento. É como se, por breves minutos, o nosso cérebro se pudesse desligar das coisas terrenas e viajar, ao som daquela melodia. É como se, mesmo que não se saiba dançar (e o que é isto de "saber dançar"?), o corpo intuí-se imediatamente os movimentos mais harmoniosos, mais genuínos. É como se, naquele espaço-tempo, todo o Universo estivesse em sintonia, e aquele instrumento (ou aquela voz) pudesse ser o veículo privilegiado de acesso a esse concílio sobrenatural.

E isso não está ao alcance de qualquer pessoa. Por muita perfeição com que se saiba tocar um instrumento, ou por muito afinada que seja uma voz, é preciso algo mais. É preciso entrega, é preciso submeter-se aos desígnios da própria música, e, assim, é preciso humildade. Por isso é que este mundo está cheio de vedetas, é pena é haver tão poucos/as artistas.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Uma boa razão...

...para ir ao fotógrafo:





Nem pareço eu, até gosto de me ver... :P

quarta-feira, 13 de junho de 2007

A inveja

Era uma vez um menino, a quem chamaremos Zézinho. O pai e a mãe do Zézinho, por razões que não iremos explorar agora, olharam para o menino acabado de nascer e decidiram que ele iria ser o melhor. Por isso, desde cedo, convenceram-no de que era o melhor em tudo, e arranjaram forma de que, se não o fosse efectivamente, o filho tivesse meios de convencer os/as outros/as de que o era, e por isso encheram-lhe o quarto dos melhores brinquedos e das últimas tecnologias. Assim, o Zézinho cresceu convencido de que realmente era o melhor; e que razão teria ele para duvidar do pai e de mãe?
Um dia, o Zézinho cresceu e saiu "debaixo da asa" da família. Foi estudar para outra cidade (embora continuasse a viver em casa do pai e da mãe) e entrou para uma Escola maior. Aí, conheceu outro menino, a quem chamaremos Pedrinho. O Pedrinho também era muito bom naquilo que fazia, em algumas actividades era mesmo o melhor, mas o pai e a mãe dele nunca lhe tinham incutido que, mais do que ser bom, era preciso ser o melhor. Ainda assim, o Pedrinho recolhia admiração de todos/as os/as novos/as colegas, menos do Zézinho, que olhava para ele com alguma desconfiança: não percebia como é que os/as colegas podiam gostar tanto de alguém que nem sequer se esforçava para ser o melhor em tudo. O desconforto passou a antipatia e, rapidamente, o Zézinho estava capaz de fazer qualquer coisa para ser melhor que o Pedrinho.
Como se não bastasse, o Pedrinho arranjou uma namorada, e o Zézinho, não querendo ficar atrás, decidiu devotar-se a conquistar aquela que, na sua opinião, seria a mais difícil de seduzir, para que pudesse celebrar mais esta vitória. Azar dos azares, viria o Zézinho a descobrir pouco depois, a namorada era daquelas "pós-modernas", que não querem ser namoradas, querem ser só "amigas com quem damos umas voltinhas de vez em quando" e o Zézinho, embora se esforçasse por dar a entender que se achava um sortudo por ter uma namorada tão "à frente", pensava, muitas vezes, que a namorada, na realidade, não gostava dele o suficiente para assumir o relacionamento, ou teria até mesmo vergonha dele.
Surgiu então a oportunidade de participar num torneio de xadrez, e o Zézinho, não podendo resistir ao apelo de mais uma conquista certa, decidiu chamar alguns/algumas colegas para se lhe juntarem, formando uma equipa. No entanto, todos/as os/as colegas acharam que as hipóteses de ganhar subiriam substancialmente se chamassem o Pedrinho para integrar a equipa, uma vez que alguns/algumas tinham ouvido dizer que ele já tinha participado em vários torneios da modalidade, tendo igualmente pertencido a alguns clubes e, inclusive, vencido diversas iniciativas. Tanto azucrinaram o Zézinho que ele lá acabou por aceitar integrar o Pedrinho, embora tenha deixado bem claro, desde o início (mas, claro, sem nunca falar abertamente com o Pedrinho), que não lhe agradava aquela parceria. E, de facto, achavam todos/as os/as colegas, o Pedrinho tinha sido uma óptima aquisição: tinha uma excelente técnica de jogo e gostava de apoiar o treino dos/as colegas. Apenas o Zézinho continuava a discordar da presença do Pedrinho, e quanto mais aplaudida esta era, mais o Zézinho se esforçava por chamar para si a atenção exclusiva dos/as colegas, fosse oferecendo-se para dar palestras sobre os seus utilíssimos conhecimentos técnicos, fosse para obrigar os/as colegas a horas e horas a fio de jogos intermináveis (porque, como já sabemos, o Zézinho nunca perdia, e enquanto isso acontecesse, o jogo não poderia acabar).
Ao fim de alguns meses, o Pedrinho, devido a responsabilidades familiares, teve de abandonar os treinos, embora se mantivesse sempre interessado na progressão que os/as colegas iam fazendo. Quando finalmente teve possibilidade de reintegrar a equipa, faltava cerca de um mês para o torneio, e conversou com alguns/algumas colegas (uma vez que desconhecia a existência de um "chefe" de equipa) sobre a possibilidade de, ainda assim, participar no torneio, ao que todos/as foram receptivos/as. Excepto, claro, o Zézinho, mas, como já era seu hábito, não teve coragem de interpelar o colega e expor-lhe a sua oposição. O Pedrinho regressou, assim, aos treinos, mas, ao fim de algumas sessões, sentia-se muito desconfortável com o desagrado implícito na atitude do Zézinho, embora esperasse que ele o esclarecesse acerca da sua posição em relação à participação no torneio. Ainda que a maioria dos/as colegas se manifestassem abertamente a favor da participação do Pedrinho, ninguém se assumiu como estando contra, embora muitos/as tenham simplesmente encolhido os ombros. No entanto, a conversa com o Zézinho nunca aconteceu, e o Pedrinho, não tendo qualquer intenção de causar mau-estar aos/às colegas, mas apenas divertir-se num jogo que tanto prazer lhe dava, decidiu abandonar a equipa.

Caros/as leitores/as, não sabemos ainda o desfecho do torneio de xadrez, mas garanto que, assim que houver novidades, terei ENORME prazer em anunciar tão aprazível e rotunda derrota.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Ossos

Algumas pessoas têm muito pudor em reconhecer quanto a biologia condiciona de facto aquilo que somos enquanto seres humanos. As pessoas que se escandalizam quando ouvem dizer "raça" em vez de "etnia" são aquelas para quem o facto sermos todos/as, no fundo, seres eminentemente biológicos é uma realidade demasiado desconfortável. "Não queremos ter raças, porque não somos animais, somos pessoas".
Já eu, vivo bem com o meu lado animal. Desde que me lembro de existir que sempre tive uma relação interessante com o meu corpo. Cedo desenvolvi uma espécie de "sentimento de mim", uma consciência da minha existência e circunstância física, talvez devido a ter praticado ballet e outros desportos durante vários anos. O meu corpo nunca foi, para mim, uma restrição, mas antes uma plataforma.
Confundem-me as pessoas que têm, com os seus corpos, uma relação demasiado "higiénica", como se o corpo pudesse ser apenas uma embalagem a que somos obrigados/as a recorrer para transportar os nossos elevados e iluminados, quase etéreos, seres. Não me vejo assim. Vivo bem com o meu corpo. O que não significa que passe horas a admirar-me ao espelho e a pensar que sou uma dádiva de Deus ao mundo; simplesmente convivo cordialmente com as suas imperfeições e celebro as suas potencialidades. O meu corpo, mais do que a minha mente, é o meu veículo de transmissão. Sou mais sincera quando me expresso através dele, e ele permite-me uma abstracção que não me é possível de outra forma menos "material".
Quando me custa a adormecer, gosto me concentrar nos meus ritmos. Na minha respiração, nos meus batimentos cardíacos. Isso ajuda-me a abstrair-me das preocupações que me roubam o sono. Por outro lado, gosto de analisar o meu corpo, olhá-lo como se estivesse a apreciar um quadro, reparar nas imperfeições da pele, nas veias azuis perceptíveis aqui e ali, nas pulsações. E isso relaxa-me, também.
No entanto, compreendo a relação que algumas pessoas têm com a corporeidade, porque a Educação que recebemos não condiciona apenas as nossas funções intelectuais: a Escola ensina-nos que o saber exige disciplina, a todos os níveis, e só podemos realmente aprender quando controlamos o corpo, quando o obrigamos a estar sentado várias horas e lhe "dizemos" que só pode extravasar às horas destinadas ao efeito. Da mesma forma, tanto a Escola como a família e a própria cultura nos dizem, mais ou menos explicitamente, que o corpo é uma parte de nós de que devemos ter vergonha (porque desempenha funções menos nobres, ou "sujas", se quisermos), e por isso temos que vesti-lo e calçá-lo, e escondê-lo de todas as formas possíveis, e em todas as circunstâncias, principalmente quando temos que o partilhar com alguém. Por isso entendo que tantas pessoas tenham uma relação tão dolorosa com o seu corpo. E lhes custe tanto pensar em si como animais, porque isso seria quase como dizer que não podemos ter controlo sobre nós próprios/as; e, consequentemente, sobre os/as outros/as. Não seria este mundo muito mais fácil se soubéssemos sempre o que esperar do/a outro/a e de nós mesmos/as?...

Gosto de ser principalmente vida. Músculos, sangue, ossos, esforço, adrenalina, cansaço. Vivo bem com o que o meu corpo me possibilita, e gosto de ser principalmente movimento e transformação. Talvez por isto, por esta consciência de existir no plano físico, eu seja tão ciosa do meu espaço. Não gosto quando as pessoas me tocam sem querer, como por exemplo nos transportes públicos ou em algum recinto cheio de gente. As pessoas por vezes circulam nos espaços como se fossem insensíveis ao toque, como se, efectivamente, os seus corpos fossem veículos de transporte, hermeticamente limpos e disciplinados, e nenhuma sensação não programada fosse registada. Não gosto da invasão do contacto indesejado. O toque só me dá prazer quando é mutuamente consentido, quando ambos os corpos se predispõem à comunhão de sensações. Fora isso, é como se fosse uma agressão. Nesse sentido, penso algumas vezes como seria ter de partilhar este espaço que é o meu corpo com outro ser, e qual seria a sensação física dessa "ocupação". Tenho curiosidade; pode ser que daqui a alguns anos possa experimentar...