segunda-feira, 5 de maio de 2008

Promete

Quero escrever. Quero verter sentimentos em palavras. Quero que as palavras nunca sequem, nunca deixem de brotar disto que se passa cá dentro, dentro de mim. Quero as mãos atrapalhadas pela sofreguidão destas palavras, que querem saltar-me pelos olhos, pela boca, perfeitas, redondas, brancas. Palavras.
Deixo-me envolver, respiro. Fecho os olhos e as mãos, trago-as assim ao rosto, escondo-me nelas. Pensamentos feitos luz. Queria saber-te e pôr-te em palavras, muitas palavras, um rio de palavras e eu imersa nele. Sem fôlego, sem pé. Atirar-me para uma corrente de palavras, de sentimentos em palavras, de costas, os olhos fechados, os braços abertos, sem respirar fundo antes de saltar. Saltar, só. Encharcar-me nas palavras de ti.
Quero o som das tuas palavras, o cheiro delas, o sabor delas, na ponta da língua, no fundo da garganta, no fundo do peito. Nas pontas dos dedos. E para lá delas, para lá dos corpos, as palavras, sempre. Para lá da vida e da morte, palavras que ficam sempre, coladas ao tempo, palavras húmidas a escorrer das paredes da alma, até que já não haja ninguém que saiba o que elas querem dizer. Até já não havermos nós, nem nada de nós.
As palavras hão-de ser sempre promessas e desejo. Histórias que escrevemos, de um só fôlego, no cimento molhado. Nas mãos abertas um do outro. As mãos como cadernos em branco, dedos de tinta permanente. As palavras que ficam. Escritas na pele, nos olhos, em nós. São palavras invisíveis, vapor de sonhos. As veias azuis como auto-estradas, a levar a possibilidade das palavras às esquinas do coração.
As palavras como laços. Promete-me palavras. E tempo. E um mar de sentimentos feitos luz, para eu mergulhar, de cabeça. Os olhos fechados e os braços abertos. Palavras sem fim.
Promete.

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