quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O meu avô


Descobri esta fotografia no fim-de-semana passado. Não a conhecia, nem tem data, mas deve ter uns seis, sete anos. Nem dá para acreditar que já passaram quatro anos e meio desde que este sorriso deixou de preencher os meus dias...
É o meu avô. É assim que me lembro dele. Aquela roupa, aqueles chinelos, a bicicleta, os pássaros. Aquela casa e aquele quintal onde passava tantas horas. Às vezes ouço, lá num cantinho perdido da memória, ele a chamar por mim. O tempo começa a apagar certas lembranças... Lembro-me da voz dele a pronunciar certas palavras, certas expressões que usava muitas vezes, a maneira como assobiava enquanto se entretinha com alguma das suas intermináveis tarefas. Quando vou na rua, por vezes reconheço em alguém o cheiro do after-shave que ele usava. De outras coisas já não me consigo lembrar.
Tenho duas cassetes audio, com gravações da voz dele. Uma data de quando eu tinha um ano e meio de idade. Outra de bem mais tarde, de uma entrevista que a minha mãe lhe fez a propósito da experiência do serviço militar em Macau, cerca de 2001. Desde que o meu avô morreu, já por diversas vezes tive intenção de pegar nessas gravações, mas até hoje não fui capaz. Não sei se algum dia serei. Já o disse muitas vezes, mas de facto é o que sinto, é uma dor que nunca morre. Uma saudade que nunca mais poderei superar. Um nó na garganta e os olhos marejados de lágrimas, sempre que me lembro dele. Sempre.
Era o meu avô. Tenho saudades. Penso que terei sempre. Ficou tanto por viver, por dizer. Tantos beijos e abraços, palavras meigas, suspensos para sempre. O meu avô a dizer o meu nome... até quando conseguirei lembrar-me?
A vida hoje dói.

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